Doce Mãe de Deus, Virgem Mãe da Igreja

“Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós pecadores”. Quantas vezes ao dia fazemos esta invocação à Virgem Santíssima. São palavras simples, mas carregadas de sentimento filial e de profunda consciência acerca da nossa condição de pecadores necessitados dos auxílios celestes. E é nessa consciência que se coloca a força da intercessão de Maria, a Mãe de Deus e nossa Mãe, a qual acolhe nossos rogos insistentes e os apresenta a Deus, nosso Senhor, pedindo principalmente pela nossa salvação.

Durante sua vida terrena, a Virgem Maria foi totalmente dedicada a Deus e aos demais membros do seu povo. Sendo Imaculada, toda pura e sem nenhuma mancha de pecado, ela podia acolher a graça divina de uma maneira que a nós é difícil de imaginar, pois existia na sua alma uma ligação direta com a fonte de todo bem, que é Deus mesmo, em virtude da sua capacidade pessoal de acolhimento deste bem. Tal realidade se condensa em Maria na sua oferta generosa a Deus pelo seu sim constante à vontade do Senhor, primeiramente manifestada na comunicação da Palavra divina, e, em seguida, do seu consentimento absoluto ao plano da salvação que lhe é transmitido pelo Arcanjo Gabriel.

A participação de Maria na obra da salvação se dá através da sua singular cooperação com o Redentor, pois ela não é apenas um instrumento inerte nas mãos de Deus para o seu agir salvífico, mas sim uma porta que se abre para que o Verbo eterno de Deus tome a carne humana e adentre, de uma forma absolutamente única e inédita, a história. Maria, portanto, para o Verbo encarnado é a porta santa, a qual se abre para acolher o dom inefável da salvação em nome de toda a humanidade. Ela, em sua conceição imaculada, é já a primeira dos redimidos, sinal excelso da misericórdia e bondade infinitas de Deus, pois recebeu, antecipadamente, em vista dos méritos da paixão, morte e ressurreição de Cristo, o fruto saboroso da redenção, assumindo seu especial lugar junto ao Novo Adão, qual Nova Eva no tempo que se inicia com a salvação do mundo.

Escreve, a este respeito, São Luís de Montfort: “Jamais houve alguém senão Maria a encontrar graça diante de Deus, para si mesma e para todo o gênero humano, de modo que só ela teve o poder de encarnar e trazer ao mundo a Sabedoria eterna. Somente ela também, pela operação do Espírito Santo, tem o poder de encarná-lo, por assim dizer, nos predestinados” (O amor da Sabedoria eterna, n. 203). De tal forma, aquela que gerou o Cristo no seu ventre, gera-o, também, em nós, através da sua maternidade fecundíssima, pois ela é, qual Nova Eva, a verdadeira mãe que nos ocorria, a mãe plena que não transmite-nos uma pena de morte, como a primitiva, mas que, de verdade, transmite-nos a Vida, o Verbo da Vida, aquele que vem para resgatar o mundo decaído pela grandeza humilde da “serva do Senhor”.

A Santíssima Virgem, Mãe de Deus, é também Mãe do povo de Deus, dos seus filhos conquistados no sacrifício do Filho Unigênito. Aos pés da Cruz, ao acolher com amor materno o discípulo amado, ali representante de todo o novo povo de Deus que foi salvo pelo sangue do Cordeiro, Maria torna-se, em Cristo, Mãe de toda a Igreja. “Para a glória da Santíssima Virgem e para o consolo nosso, proclamamos Maria Santíssima Mãe da Igreja, a saber, Mãe de todo o povo cristão, tanto dos fiéis, como dos pastores, que a chamam mãe amadíssima; e decretamos que, de agora em diante, com este nome suavíssimo, todo o povo cristão honre ainda mais a Mãe de Deus e lhe dirija suas orações”, declarou, solenemente o Papa Paulo VI (Discurso de conclusão da Terceira Sessão do Concílio Vaticano II, 21 de novembro de 1965).

Ser Mãe do Salvador já colocava Maria na condição de ser Mãe da Igreja, pois aquela que concebeu a Cabeça não poderia eximir-se de dar à luz ao Corpo. Assim, ao receber aos pés da cruz “o testamento da caridade divina”, a Virgem Santa acolhe a missão singular de gerar, misticamente, o povo do Verbo, a Igreja de Cristo, na qual ela é membro eminente e peculiar, sendo, em função da sabedoria divina que tudo dispõe, redimida e co-redentora.

Para todo o povo cristão, para todos aqueles que são fiéis a Cristo e ao desejo amoroso de Deus, o dom dessa inigualável mãe deve ser para todos um grande motivo de louvor. Temos em Maria, pela graça de Deus, aquela mesma porta totalmente aberta para a Vida. Ela conduz-nos ao encontro sincero e fecundo com o seu Filho, fazendo-nos passar, com ela, pela doce dor do Calvário, rumo a alegria sem fim da vida que vence a morte. Ela nos mostra sempre o lugar que o seu Filho bendito foi reservar-nos nas moradas do Pai, instigando-nos a busca-lo sem desanimar, vivendo a vida neste mundo como um tempo de oferta generosa e grata pelos dons de Deus, que são de valor incalculável.

Ser filho da Igreja, como o somos de fato, é também ser filho de Maria Santíssima. Que honra! Que bem-aventurança! Aquela felicidade que o Senhor Jesus escolheu para si, elegendo a nobre filha de Sião para ser sua mãe, deleitando-se nela com o mais puro e digno amor materno, quis ele que, também nós, pobres pecadores, gozássemos desta mesma fonte de bem e consolação. Quão bondoso é nosso Senhor, por dar-nos o que de mais precioso ele mesmo teve nessa terra. Pobre como era, quis Jesus fazer-nos herdeiros da sua riqueza, a fonte mais pura de alegria que ele tinha entre os homens, sua Santíssima Mãe.

Que a recordação desta infinita bondade de Deus para conosco enriqueça nosso louvor a ele, fazendo-nos gratos, imensamente gratos, porque, mesmo tão indignos, somos objeto de tamanha benevolência. Quão grande gratidão não provaria um pobre plebeu que, tirado da sarjeta do mundo, onde apenas o perigo e a dor lhe fazem companhia, fosse levado com honras ao palácio real, e lá, diante de toda a corte, fosse acolhido pelo rei como irmão, e abraçado pela rainha com terno amor materno. Dê-nos Deus a sua graça, para que, deixando a mesquinhez do coração empedernido, não nos cansemos de agradecê-lo por nos ter acolhido em sua família, cumulando-nos com a alegria de ter como mãe a mais pura e doce de todas as mães.

Pe. Everton Vicente Barros
Comunidade Católica Palavra Viva