Em defesa do Evangelho da Vida
“Eu te conjuro em presença de Deus e de Jesus Cristo, que há de julgar os vivos e os mortos, por sua aparição e por seu Reino: prega a palavra, insiste oportuna e importunamente, repreende, ameaça, exorta com toda paciência e empenho de instruir. Porque virá tempo em que os homens já não suportarão a sã doutrina da salvação. Levados pelas próprias paixões e pelo prurido de escutar novidades, ajustarão mestres para si. Apartarão os ouvidos da verdade e se atirarão às fábulas. Tu, porém, sê prudente em tudo, paciente nos sofrimentos, cumpre a missão de pregador do Evangelho, consagra-te ao teu ministério” (2 Tm 4, 1-5).
Estas palavras do Apóstolo Paulo dirigidas ao seu caro filho na fé Timóteo servem de moção para todos os cristãos do nosso tempo, tão atribulado e confuso diante de tantas ideias e ideologias maliciosas e vorazes, capazes de submeter até mesmo a racionalidade às mais baixas categorias do pensamento, destituindo uma das caraterísticas própria do ser humano, a capacidade de observar, conhecer e reconhecer a verdade.
São Paulo estimula Timóteo – bispo de Éfeso – a comportar-se em maneira digna do ministério que ele havia recebido pela imposição das suas próprias mãos, e que não se deixasse acuar pelas intempéries que o paganismo daquela época impunha sobre a fé cristã, nem que se omitisse frente às perseguições que os fiéis sofriam por parte das forças do Império ou das culturas hostis à Revelação do Deus de misericórdia e realizada em Cristo. Tais exortações não permaneceram infecundas na vida deste sucessor dos apóstolos, pois o seu testemunho foi firme diante das perseguições e inabalável na defesa da verdade que é irradiada pelo Evangelho da Vida.
A constatação paulina acerca do tempo em que os homens não poderão mais suportar a verdade, deixando-se envolver com doutrinas estranhas e privadas de fundamentos racionais e lógicos, se torna cada vez mais presente, haja visto vasta e arquitetada obra de manipulação da sociedade e do pensamento humano atual como fim de promover mentiras que têm como único objetivo aquele de minar a instituição familiar e denegrir a própria imagem de Deus inscrita no ser humano. O que para muitos são teorias científicas, na realidade, não passam de fábulas criadas subjetivamente sem qualquer apoio científico, e disseminadas de forma ilusória, levando ao erro o pensamento dos mais indefesos ou propensos à manipulação.
Diante de uma realidade tão hostil e criminosa, as palavras do Apóstolo dos gentios soam para nós como um comando de guerra, onde as armas de nada servem, mas apenas a força da verdade que liberta pode dar a coragem necessária para continuar o caminho em defesa dos valores inalienáveis do ser humano. Três são as principais virtudes que foram pedidas à Timóteo, e que hoje nos são tão necessárias: prudência, pois a certeza de estar do lado da verdade é o que basta para nos dar a garantia da vitória final, mantendo a firmeza da fé e a coragem apostólica, como o Senhor nos indicou “prudentes como as serpentes, simples como as pombas” (Mt 10, 16); paciência, para que os sofrimentos que a mentira nos incute não sejam capazes de nos fazer desanimar diante do combate a ser travado, mas que nos lembremos sempre que nosso Rei, o verdadeiro Senhor do Universo, venceu o pecado e a morte com a sua Cruz; compromisso com a missão, aquela que nos foi confiada no seio da Igreja, sendo sinais do amor de Deus e da sua infinita misericórdia, sempre dispostos a dar o bom testemunho da fé e da verdade, cientes que a luz não serve para ficar oculta, mas deve brilhar a todos. Desta forma, cada um segundo o chamado de Deus pode e deve testemunhar a verdade do Evangelho da Vida, de acordo com as próprias possibilidades: os casais sejam cada dia mais santos e unidos, sabendo educar seus filhos no amor, fazendo ouvir suas vozes em defesa da família na sociedade humana; os jovens sejam sinal da renovação e da coragem, conclamando tantos outros à verdade e à autêntica liberdade; os consagrados vivam sua vocação com amor, na doação aos outros, buscando ser no mundo sinais de contradição e do verdadeiro escândalo da cruz, que não se deixa ameaçar, proclamando a Palavra do Pai com vozes fortes e uníssonas.
Somente a unidade dos filhos de Deus pode vencer a esperteza dos filhos das trevas, fazendo resplandecer no mundo o amor de Deus e sua bondade, que não será nunca vencida pelo pecado. O tempo se faz breve, mas não devemos temer, pois onde abundar o pecado, superabundará a graça (cfr. Rm 5, 20).
Em 2005, durante a Via Sacra no Coliseu – preparada pelo Cardeal Ratzinger – os cristãos unidos ao Papa João Paulo II suplicaram ao Senhor que ajudasse o nosso tempo: “[Senhor] Destrói o poder das ideologias para que os homens possam reconhecer que estão enrolados em mentiras. Não permitas que o muro do materialismo se torne intransponível. Faz com que te reconheçamos de novo, faz-nos sóbrios e atentos para podermos resistir à força do mal”. Senhor, também hoje, nós te suplicamos.