Ó casal feliz, Joaquim e Ana!

“Ó casal feliz, Joaquim e Ana!”

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A Igreja celebra no dia 26 de julho a memória de São Joaquim e Santa Ana, pais da Virgem Maria e avós de Jesus. Sabemos os nomes destes ditosos pais através do Proto-evangelho de Tiago, um escrito apócrifo do século II e seu culto se deve, em modo particular, à contemplação do mistério de Cristo que, entrando no mundo e fazendo-se em tudo semelhante a nós, exceto no pecado (cfr. Hb 4, 15), recebe do Eterno Pai uma família que o acolhe e lhe presta os mais tenros cuidados que o Filho de Deus merecia.

O Senhor Jesus Cristo, vindo fazer parte da família humana, escolheu uma família em particular para o receber, em nome de toda a humanidade. Desde sempre a Providência divina prepara o caminho para a chegada do Verbo encarnado, guiando os passos do povo eleito pelas estradas da história, com seus altos e baixos, mas sempre com a inalienável presença e cuidado de Deus, até a chegada da plenitude dos tempos, quando o Filho Unigênito nasce da mulher, conforme as promessas (cfr. Gal 4, 4). Joaquim e Ana, se tornam então, a última etapa desta preparação imediata para o nascimento de Cristo, pois são eles que geram a Mãe do Salvador. “Ó casal feliz, Joaquim e Ana! A vós toda a criação se sente devedora. Pois foi por vosso intermédio que a criatura ofereceu ao Criador o mais valioso de todos os dons, isto é, a mãe pura, a única que era digna do Criador. Levando, ao longo de vossa existência, uma vida santa e piedosa, gerastes uma filha que é superior aos anjos e agora é rainha dos anjos” (São João Damasceno, Oração 6, Na Natividade da Bem-aventurada Virgem Maria, 2.5).

Contemplar o mistério de Cristo que adentra na vida humana de uma forma tão simples e singela não pode que gerar em nós grande admiração por tudo o que isso significa. Mas além desta grandeza mistérica, a comemoração deste santo casal traz consigo uma meditação e uma reflexão importantes para nossa convivência familiar. No dia de São Joaquim e Santa Ana, comemoramos também o dia dos avós, justamente por se tratar da memória dos avós de Jesus.

Por mais que não tenhamos notícias do relacionamento de Jesus ou da Virgem Maria com Joaquim e Ana, não conseguiríamos imaginar que fosse uma relação difícil ou acabrunhada de limitações. Muito pelo contrário! Nos é fácil imaginar que a convivência de Maria com seus pais tenha sido da mais alta devoção e respeito, acompanhado de um grande amor e carinho, próprios de um filho amoroso, ainda mais se tratando daquela que não conheceu pecado, mas apenas se deixava preencher pela graça divina. Diferente não deveria ser o amor e afeto demonstrado pelo Senhor Jesus para com seus avós, sempre dedicado e humilde, voltado para a alegria daqueles que ele mesmo escolheu para que o ajudassem na caminhada terrena no projeto salvífico da Trindade. A família de Nazaré nos ensina a viver a vida de forma plena, sem acepções de pessoas ou deterioração da dignidade de quem quer que seja. “Nazaré é a escola onde se começa a compreender a vida de Jesus: a escola do Evangelho. Aqui se aprende a olhar, a escutar, a meditar e penetrar o significado, tão profundo e tão misterioso, dessa manifestação tão simples, tão humilde e tão bela, do Filho de Deus. Talvez se aprenda até, insensivelmente, a imitá-lo” (Paulo VI, Alocução em Nazaré, 05.01.1964).

Imitar o Senhor com a própria vida implica também saber valorizar cada pessoa, como ele soube, e, de forma toda particular, os membros da família, ainda que não seja sempre fácil. E, com certeza, os que mais precisam ser valorizados e amados, são os avós, que hoje fazem as vezes de São Joaquim e Santa Ana em nossos lares. Certo, nem todos eles são ágeis quando devem desenvolver alguma atividade ou ir à algum lugar, mas isso é sinal de um corpo que não corresponde ao nosso ritmo frenético porque se desgastou, ao longo dos anos, buscando o bem-estar dos filhos e dos netos; talvez estes idosos não consigam ser conectados com aplicativos de troca de mensagens ou redes sociais, mas, com certeza, não se deitam a noite sem se dirigir à Deus, pedindo perdão pelos erros dos netos e suplicando muitas graças e bênçãos para cada um deles, que, afinal, é a conexão que realmente interessa; certamente não sabem nada de estilos musicais modernos ou artistas famosos estrangeiros, mas seguramente têm ótimas histórias para contar e grandes ensinamentos para transmitir.

“Os idosos ajudam a perceber ‘a continuidade das gerações’, com ‘o carisma de lançar uma ponte’ entre elas. Muitas vezes são os avós que asseguram a transmissão dos grandes valores aos seus netos, e ‘muitas pessoas podem constatar que devem a sua iniciação na vida cristã precisamente aos avós’. As suas palavras, as suas carícias ou a simples presença ajudam as crianças a reconhecer que a história não começa com elas, que são herdeiras dum longo caminho e que é necessário respeitar o fundamento que as precede. Quem quebra os laços com a história terá dificuldade em tecer relações estáveis e reconhecer que não é o dono da realidade” (Papa Francisco, Amoris laetitia, 192).

Somos herdeiros de grandes homens e de grandes mulheres! Mas somos também devedores. Assim sendo, busquemos, de todas as formas possíveis, recompensar nossos avós pelo bem que nos fizeram e pelo tesouro que são para nós, para Igreja e para o mundo.

Deus abençoe os seus avós.

 

Pe. Everton Vicente Barros
Comunidade Católica Palavra Viva

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