O verdadeiro filho de Maria
Três séculos! São trezentos anos de presença de Maria Santíssima em meio ao povo brasileiro através da imagem de Nossa Senhora da Conceição Aparecida, mas para cada membro deste povo o encontro com a Mãe de Deus e nossa parece recente e sempre mais atual, pois ela, assim como para os apóstolos do Senhor, é sempre presente, nunca abandonando os filhos que o sacrifício de Cristo lhe conquistou.
Nas comemorações do terceiro centenário de Aparecida somos chamados a contemplar a grandeza da obra de Deus em Maria e deixar-nos moldar pelo amor e pela providência do Senhor na vida de cada um de nós e de todo o nosso povo, unindo os corações ao coração de Deus e sendo para o mundo sinal da alegria que apenas a certeza do amor divino e da presença materna de Maria conseguem sustentar.
A presença mariana na Igreja deve ser associada a um desejo grande de realizar a vontade de Deus, sempre e em qualquer circunstância. Tal desejo assim forte é uma realidade contida na alma de todos os seres humanos, criados à imagem e semelhança de Deus e alvos constantes de suas mais sublimes manifestações de amor e misericórdia. Assim sendo, com Maria, somos capazes de aprender a buscar esta vontade que realiza plenamente a nossa vontade mais íntima, da mesma forma como a Virgem Santa encontrou a realização da sua vida e das esperanças de seu coração no cumprimento pleno do desígnio da Trindade, que lhe foi comunicada no anúncio do Anjo. Tal momento singular na vida de Maria – e também de toda a Igreja – traz consigo um tesouro de espiritualidade, dando origem à oração da Ave-Maria, chamada também de Saudação angélica, com a qual saudamos a grandeza de Deus em Maria e a sublimidade do seu sim à encarnação do Verbo e à maternidade divina que a tornaria, depois, Mãe de todos os viventes.
A oração do Rosário, portanto, assume uma importância capital na vida espiritual dos cristãos, dando-lhe os meios de contemplar o rosto divino de Cristo com os olhos de Maria, isto é, na meditação dos mistérios da vida de Jesus sob a guia de sua Santíssima Mãe. “O Rosário, de fato, ainda que caracterizado pela sua fisionomia mariana, no seu âmago é oração cristológica. Na sobriedade dos seus elementos, concentra a profundidade de toda a mensagem evangélica, da qual é quase um compêndio. Nele ecoa a oração de Maria, o seu perene Magnificat pela obra da Encarnação redentora iniciada no seu ventre virginal. Com ele, o povo cristão frequenta a escola de Maria, para deixar-se introduzir na contemplação da beleza do rosto de Cristo e na experiência da profundidade do seu amor. Mediante o Rosário, o crente alcança a graça em abundância, como se a recebesse das mesmas mãos da Mãe do Redentor” (São João Paulo II, Rosarium Virginis Mariae, 1).
Contemplar Cristo com Maria não é uma atividade facultativa dentro de um complexo sistema devocional criado pelos cristãos e que pode ser secundarizado segundo os tempos e os sentimentos. Somos constantemente exortados a tomar nossos lugares na escola de Maria, para aprender com ela a amar a Deus e esperar com segurança firme e constante a realização do seu Reino. Em sua visita à Aparecida, Bento XVI disse: “Maria Santíssima, a Virgem Pura e sem Mancha é para nós escola de fé destinada a conduzir-nos e a fortalecer-nos no caminho que leva ao encontro com o Criador do Céu e da Terra. O Papa veio a Aparecida com viva alegria para vos dizer primeiramente: ‘Permanecei na escola de Maria’. Inspirai-vos nos seus ensinamentos, procurai acolher e guardar dentro do coração as luzes que Ela, por mandato divino, vos envia lá do alto” (Bento XVI, Discurso após a oração do Rosário, Aparecida 2007).
Em 1978, a imagem de Nossa Senhora Aparecida sofreu um atentado, que resultou na sua quase completa fragmentação, que foi superada depois de um árduo trabalho de restauração. Um particular chamou a atenção dos que puderam ver os fragmentos da santa imagem: as mãos dela estavam intactas e ainda unidas. O Papa interpretou este sinal: “Sei que, há pouco tempo, em lamentável incidente, despedaçou-se a pequenina imagem de Nossa Senhora Aparecida. Contaram-me que entre os mil fragmentos foram encontradas intactas as duas mãos da Virgem unidas em oração. O fato vale como um símbolo: as mãos postas de Maria no meio das ruínas são um convite a seus filhos a darem espaço em suas vidas à oração, ao absoluto de Deus, sem o qual tudo o mais perde sentido, valor e eficácia. O verdadeiro filho de Maria é um cristão que reza” (São João Paulo II, Homilia durante a Santa Missa de consagração da Basílica de Aparecida, 04.07.1980). A mensagem é clara: mesmo diante das ameaças de destruição a que, seja a pessoa, seja todo o povo brasileiro, nunca devemos abandonar a oração, pois não existem forças capazes de vencer os autênticos filhos daquela Mãe do céu que não deixa, por nada, de rezar e interceder por eles, por este nosso povo.
“Viva a Mãe de Deus e nossa, sem pecado concebida! Viva a Virgem Imaculada, a Senhora Aparecida!”.