Santos de calça jeans, sim! Mas como?
“Santos de calça jeans”. A famosa mensagem dirigida aos jovens e que é popularmente atribuída a São João Paulo II começa convidando a juventude a tomar parte na vida nova em Cristo vivida e difundida com naturalidade no meio do mundo, onde quer que se encontre e das mais variadas formas como a existência humana, guiada pela ação do Espírito, pode ser. Mas o que essa mensagem realmente comunica? O que a juventude entende com a ideia de ser santo no meio do mundo? Essas são reflexões válidas no atual momento em que vivemos, mesmo que sejam perguntas sobre as quais pouco se discute.
Vivemos em uma era digital, e isso é irrefutável. Neste contexto tão marcado pela tecnologia assistimos a uma constante proliferação de uma “santidade virtual”, isto é, um catolicismo – para não falar de outras denominações cristãs ou religiões – cada vez mais presente no meio virtual, principalmente na internet, e cada vez menos presente na vida real da Igreja. É inegável o papel que ocupa o apostolado digital da Igreja no nosso tempo, pois um terreno vasto e amplo para a evangelização é a internet, além das facilidades e praticidades que a tecnologia da comunicação nos oferece. O ponto desta reflexão não é este, mas sim a comum falta do segundo passo, ou seja, da passagem de uma profissão de fé feita com caracteres em um monitor ou dispositivo móvel para a proclamação do Reino de Deus e do encontro pessoal do ressuscitado que realiza a mudança de vida e a transformação pessoal dos que recebem tal anúncio.
Em sua Carta Apostólica aos jovens – essa sim de autoria do Santo Padre em ocasião do Ano da Juventude proclamado pela ONU em 1985 – São João Paulo II esclarece a estes seus sempre estimados amigos que a missão da juventude, assim como a de todos os cristãos, é ser fermento no meio do mundo, amando o mundo como obra e manifestação de Deus, sem deixar-se tomar pelo mundo, o que impediria de ver o que é belo e bom, fixando-se e idolatrando o mal. Assim escreve: “Tudo aquilo com o qual o homem supera o mundo – mesmo sendo neste enraizado – se explica com a imagem e a semelhança de Deus, que está escrita no ser humano desde o início. […] O cristianismo nos ensina a compreender a temporalidade à partir da prospectiva do Reino de Deus, da prospectiva da vida eterna. Sem ela a temporalidade, mesmo a mais rica, mesmo a mais formada em todos os aspectos, ao final, não leva o homem a nada mais que à inelutável necessidade da morte” (Dilecti amici, 5, 6 [tradução livre]). Isso significa que apenas Cristo pode preencher o coração do homem, principalmente do jovem, qual ser humano em construção em um estágio em que se deve ter ainda mais atenção a causa da formação do caráter.
Devemos dizer que não é coerente postar frases de santos nas redes sociais, publicar as próprias fotografias feitas durante a participação nas celebrações ou promover conteúdos espirituais sem que isso se torne vida real. Essa pode ser uma expressão forte, mas é igualmente verdadeira. A vida vivida e transmitida na internet não a vida real do indivíduo. Não nos tornamos mais santos porque nossos perfis sociais são recheados de imagens sacras e frases de efeito, mas ao contrário, quando vivemos a santidade no nosso quotidiano, testemunhando o amor de Deus na faculdade, no trabalho, dentro da própria casa, com a própria família, sendo luz do mundo e sal para os corações desanimados (cfr. Mt 5, 13), então tudo ao nosso redor será iluminado e ganhará novo sabor, além do perfume da santidade de Cristo (cfr. 2Cor 2, 14) e da lucidez do óleo da alegria (cfr. Is 61, 1-3) e do fermento novo da Palavra de Deus (cfr. Mt 13, 33).
A grande força do testemunho se encontra justamente na veracidade do que é transmitido. Por isso devemos sempre nos esforçar para que nossa vida seja aquilo que aparenta, buscando realizar a vontade salvadora de nosso Deus, que nos ama e quer esse amor infinito e belo chegue a todos os corações, lembrando-nos que para esse fim, o Senhor espera nossa cooperação sincera e decidida. Precisamos sim de santos de calça jeans, que usem internet, que sejam sempre conectados, mas principalmente se forem exatamente isso: santos… que também usam jeans.
“Na entrega voluntária, em cada instante dessa dedicação, a liberdade renova o amor e renovar-se é ser continuamente jovem, generoso, capaz de grandes ideais e de grandes sacrifícios. Lembro-me que tive uma grande alegria quando soube que em português chamam aos jovens os novos. E são isso. Conto-vos isto, porque já tenho muitos anos, mas quando rezo junto do altar ao Deus que enche de alegria a minha juventude, sinto-me muito jovem e sei que nunca me hei-de considerar velho, porque, se permanecer fiel ao meu Deus, o Amor vivificar-me-á continuamente. A minha juventude renovar-se-á como a da águia” (São Josemaria Escrivá, Amigos de Deus, 31).
Pe. Everton Vicente Barros
Comunidade Católica Palavra Viva