Testemunhas da novidade de Cristo
“Assim é que está escrito, e assim era necessário que Cristo padecesse, mas que ressurgisse dos mortos ao terceiro dia. E que em seu nome se pregasse a penitência e a remissão dos pecados a todas as nações, começando por Jerusalém. Vós sois as testemunhas de tudo isso” (Lc 24, 46-48).
A ressurreição de Jesus Cristo, nosso Senhor e Salvador, constitui a maior e mais significativa novidade de toda a história da humanidade. Chamá-la de novidade, ao contrário do que se poderia pensar, não é relegar um tão grande mistério à fugacidade e caducidade típicas de todas as novidades que, por sua natureza, são fadadas a tornarem-se obsoletas e conhecerem o desaparecimento. Novidade, no sentido autêntico de transcendente do termo, indica algo novo, entendido como uma realidade que não apenas se coloca em seguimento de uma série de elementos antecedentes, trazendo consigo uma compilação destes mesmos com uma pequena parcela de inovação, mas sim como um ser qualitativamente e essencialmente diferente e superior, capaz de comunicar sua novidade.
Neste sentido, a comunicação da novidade da ressurreição compete, em primeiro lugar, àquele que a traz consigo e em si, isto é, a Jesus. O Senhor, logo após a sua ressurreição, não se oculta aos olhos dos seus discípulos, subindo imediatamente para junto do Pai, enviando em seguida um anjo para que comunicasse sua vitória. Não! O Rei vitorioso, na mesma manhã da Páscoa, se faz encontrar por aqueles que com ele viveram, consolando os corações, pois é dele que se profetizou: “[…] enviou-me para anunciar a boa nova aos pobres, para sarar os contritos de coração, para anunciar aos cativos a redenção, aos cegos a restauração da vista, para pôr em liberdade os cativos, para publicar o ano da graça do Senhor. […] Hoje se cumpriu este oráculo que vós acabais de ouvir” (Lc 4, 19.21). É o Ressuscitado o primeiro a comunicar a graça da ressurreição.
Vivemos em uma época da história em que se torna sempre mais forte a mentalidade de que o presente não possui valor, justamente porque o homem moderno tem facilidade em desprezar o passado histórico em busca de uma frenética pretensão futurística, almejando que o amanhã possa suprir às limitações e desafios do presente, criando a ilusão de segurança e de imortalidade. Impossível não ver a contradição: o mundo de hoje deseja construir um estupendo edifício com toda a sua cultura líquida desforme – e desforme, não por uma falta de fôrmas, mas pelo excesso delas – arrancando do chão os fundamentos postos ao longo dos anos, sem a análise concreta acerca do ser humano de hoje e suas autênticas aspirações. Em uma mentalidade tal, a novidade apenas pode ser um instante, um flash de modernidade em um conjunto imenso de outros flashes, como quando alguém de grande fama comparece diante dos fotógrafos, que quase o ofuscam com suas câmeras, ansiosos pelo click perfeito. O novo é, neste contexto, obsoleto e caduco. Para confirmar esta ideia basta observar a ânsia com a qual as notícias são procuradas na internet e, logo em seguida, esquecidas na vasta constelação de acontecimentos e eventos que se consomem reciprocamente.
Jesus Ressuscitado é a única e verdadeira novidade, aquela que ilumina a vida de cada ser humano e convida a realizar o mesmo que Ele, ou seja, comunicar a novidade da vida que vence a morte, da alegria que vence a tristeza, do novo que derrota o velho e caduco, fruto do pecado.
Cada cristão se torna, em Cristo, nova criatura, no qual passa o que era velho e tudo se faz novo (cfr. 2Cor 5, 17), pois ele renova todas as coisas (cfr. Ap 21, 5) e todas assemelham a si mesmo, dando um novo sentido e significado à toda a realidade.
“Depois da sua ressurreição, onde chegavam os discípulos, havia grande alegria (cf. At 8, 8). Jesus assegurou-nos: «vós haveis de estar tristes, mas a vossa tristeza há de converter-se em alegria! (…) Eu hei de ver-vos de novo! Então o vosso coração há de alegrar-se e ninguém vos poderá tirar a vossa alegria» (Jo 16, 20.22). “Manifestei-vos estas coisas, para que esteja em vós a minha alegria, e a vossa alegria seja completa» (Jo 15, 11)” (Francisco, Gaudete et exsultate, 124).